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Foto do escritor Carlos Alberto da Silva Santos Braga

O PROCESSO DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL | CARLOS BRAGA





O PROCESSO DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL.

Quando se quer dominar o conhecimento, transformamos todas as formas físicas de produção intelectual em formas digitais, destruímos as fontes materiais e, depois, criamos algoritmos para que as pessoas só acessem aquilo que entendemos que elas devam saber.

CARLOS ALBERTO DA SILVA SANTOS BRAGA

Ao longo da história, a partir do momento em que se criam formas de se registrar os atos, fatos, eventos, inventos, produção intelectual e acontecimentos, a guerra mais importante travada, é a guerra pelo domínio do conhecimento. São as passagens históricas que nos mostram as formas como os povos, ditos mais avançados, se relacionaram com os novos mundos, as novas culturas e os novos povos – seja na África, na Ásia, na América, ou ainda, na Oceania.


O que prevalece, desde então, é a manutenção de um conhecimento a partir da verdade europeia. Uma verdade onde aquilo que não conhecido, é desconstruído, é devastado, é destruído ou reconstruído a partir da verdade e do conhecimento dominado por eles próprios.


Dominar o conhecimento sempre se mostrou como uma oportunidade de negócios, de domínios intelectuais, de geração de riqueza e, sobretudo, da exploração dos outros – os não europeus. Aqui não se incluem, aqueles que atendam ao conceito de branco, anglo-saxão e protestante. Não se iludam, por mais que se estruture num discurso ideológico de inclusão, respeito, direitos humanos e igualdade, tudo isso são algoritmos – conjunto de regras e procedimentos lógicos perfeitamente definidos que levam a solução de um problema em número finito de etapas – construídos para dominar a retórica e construir a subserviência ideológica.


O processo de estruturação de tudo isso atinge o seu ápice com a Inteligência Artificial, realmente uma composição de palavras que expressa exatamente o que é: uma inteligência criada artificialmente. Não são registros automáticos de memória – as sinapses, que guiam a construção do conhecimento, não são as vivências, as informações, as situações criadas ao longo da vida que cria a sua capacidade de resposta, mas única e exclusivamente um algoritmo.


Dentro da Inteligência Artificial os estruturadores de textos que resolvem um problema, que criam uma redação, que elaboram uma dissertação, que planejam uma aula, que na essência fazem aquilo que a grande maioria das pessoas, na atualidade, não consegue fazer: pensar. E as tornam no que são: incautas.


Todas as redes sociais, todos os jogos digitais ao ar livre, todos os jogos online, todos enigmas criados e partilhados de forma digitalizada, têm um propósito: validar um algoritmo. Demonstrar a capacidade e o domínio do meio digital, revelar o poder criador e a capacidade de gerar riquezas para uma pessoa, um pequeno grupo de pessoas, ou ainda uma ideologia, nunca gerará riqueza para uma comunidade, nem mesmo na forma de arrecadação de impostos.


No entanto, aos meros utilizadores dos meios informatizados, o que importa? Às custas de uma pseudo-facilidade, entregam todas as suas informações, tudo que há de registros públicos, privados ou audiovisuais à respeito da sua pessoa. Mesmo assim, são felizes, não precisam de manifestar aquilo que realmente não possuem: inteligência, somos incautos. Não mensuramos o valor de nós próprios e vivemos uma distopia, uma sociedade que entrega o seu futuro ao algoritmo.


O processo já está avançado, não há retorno, muito já se destruiu e a única forma de acesso é na forma digitalizada. Quando se quer dominar o conhecimento, transformamos todas as formas físicas de produção intelectual em formas digitais, destruímos as fontes materiais e, depois, criamos algoritmos para que as pessoas só acessem aquilo que entendemos que elas devam saber.

Ajudamos as pessoas na relação com o meio digital, você não precisa saber exatamente o quer, nós nos incumbimos de criar atalhos para você. Digite apenas a primeira sílaba e nós ofertaremos diversas sugestões de nomes. Demonstre o que você sente, através de uma palavra e nós ofertaremos inúmeras respostas ao seu questionamento, à sua ânsia, ao seu desejo.

Não se preocupe, ninguém se importará com a origem do seu conhecimento. Ninguém se importará com a veracidade da sua informação. Ninguém questionará a sua ideia. Afinal a grande expectativa é de que o meio digital nos torne iguais, inclusos, respeitosos e felizes com a nossa própria ignorância, onde estar conectado e receber a ração de cada dia será o grande mérito.

Mas como tudo, há a antítese, o lado sombrio do algoritmo, a deepweb, o submundo, a podridão, o lodo movediço que tudo engole, este é o pari passu com a luz, onde as informações deixam de ter ética, legalidade e moralidade. Onde se rastreiam os resultados de exames tendentes às necessidades fisiológicas, nos mais estúpidos e imorais fins. Onde as imagens e os sons deixam de guardar correlação com a verdade do mundo. Onde vemos, mas não enxergamos.

Particularmente eu não tenho medo do homem que criou o algoritmo e, nem tampouco do homem que domina o computador, o meu medo é do homem que poderá desligar tudo isso e, como validador, não dispondo das fontes primárias – tempestivamente destruídas para validar a Inteligência Artificial – tenha que voltar às trevas e reconstruir tudo novamente num ambiente de pura barbárie.

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